A letter from Nov 10, 2023

eu queria me sentir pertencente a algo. é engraçado, mas eu amo a sensação de estar envolvida em algo até muito cansativo, mas junto com outros e ver significado nisso. mas são projetos curtos. olho os outros que são sempre parte de algo e às vezes nem entendo, mas admiro e invejo. me sinto tão perdida. não sei quais eram os meus planos sobre os vinte quando era mais nova, mas tenho tido um sentimento no peito que não estava planejado. o ruim é que até agora não sei explica-lo. veja bem, já escrevi muito sobre, mas nunca consigo extrair o que é isso aqui. não consigo reduzir à solidão ou nostalgia. não sei se é sentimento de estar perdida ou confusa. cansada ou vazia. é algo que não consegui adjetivar, nem mesmo descobrir a causa. está tão diluído em mim que nem mesmo percebo todo dia. mas tem alguns dias que paro e percebo que tem algo errado. me sinto inadequada. ao que? não sei. tô seguindo, mas me sinto emperrada. as músicas aliviam, a bíblia alivia, filmes aliviam, oração alivia. sol dourado e toda beleza da natureza. durmo achando que passou, que to bem. vou seguindo e, de repente, tudo de novo. não me sinto vista ou ouvida, mas tem tanta gente massa ao meu redor. falo tanto, rio tanto. mas no final do dia, não me sinto parte de nada. penso muito no passado, revivo com detalhes tudo que já foi, mas, curiosamente, também sinto uma fina parede translúcida me impedindo de me perceber como eu era. eu revejo eventos, mas não consigo me lembrar de quem eu era. ainda assim, tenho uma estranha sensação de que eu era melhor. de que quem sou agora não faz sentido. já falei sobre isso uns anos atrás, sinto que essa versão pós pandêmica de mim gosta de coisas que a eu anterior não gostaria jamais. me sinto até meio boba. como se eu estivesse fazendo o caminho contrário. como diria mitski "And I was so young when I behaved twenty-five, yet now, I find I've grown into a tall child". mas penso que tá tudo bem também não querer ser tão séria no momento. posso? não sinto que tenho permissão pra ser assim. outra coisa, eu fico me sentindo tão errada quando percebo que todos parecem querer sempre mais e eu não. todo mundo querendo estudar a mais nova tecnologia. querendo criar, querendo ser disruptivo e ganhar destaque. e eu contente em ser básica. tô errada? não sei. talvez eu seja preguiçosa demais, talvez eu só não queira seguir essa lógica utilitarista do capitalismo. mas preciso me sustentar hahahaha poderia passar o dia escrevendo aqui, tentando descobrir o cerne da questão, mas to no trabalho. não posso perder tempo.