A letter from Nov 21, 2022

Dear FutureMe, É estranho, mas parece que realmente temos um problema com o final do ano. Ontem recebi uma carta que tinhas enviado no dia 20 de novembro de 2021 e agora cá estou eu a escrever-te uma nova carta, um dia depois. Não sei se é pelo tempo estar mais chuvoso e, consequentemente, mais nostálgico, não sei se é uma questão da faculdade e estarmos sempre sobrecarregadas, não sei se o problema é o final do ano e as suas festividades, o que sei é que parece que nesta altura estamos sempre mal. E o que fazemos a respeito disso? Mandamos uma carta na esperança de que isso consiga aliviar os nossos sentimentos de tristeza e solidão. Passou-se um ano desde a última carta e, confesso-te, gostava de ter boas coisas para contar, mas este ano está a ser uma panóplia de coisas más e de momentos tristes. Não há um mês em que não aconteça algo mau e, sinceramente, ainda bem que já estamos em novembro porque sinto que não aguento mais. Cada vez me sinto mais cansada. Parece que não temos direito a sentirmo-nos bem com nada... Talvez o problema, no fundo, sejamos nós. Todos estão tão felizes e a viver o melhor das suas vidas e nós estamos aqui...Sentadas à secretária à espera que o dia de amanhã vá ser melhor, ou que pelo menos consigamos passar o dia sem ter vontade de chorar. Eu sinto que já não sei o que fazer, sabes. Preciso de ajuda, mas sinto que não tenho ninguém. Toda a gente se esquece de nós. Estão todos a aproveitar ao máximo as suas vidas e a serem felizes, logo nós já não estamos nem no top20 das suas prioridades, ou pelo menos das pessoas que eles consideram importantes. Nós já sabíamos que isto ia acontecer, mas doí passar por isto again and again. Sinto que tenho o peso do mundo sobre os meus ombros. Sinto-me super exausta e a minha capacidade de concentração está a desaparecer aos poucos. Só me apetece ficar deitada a chorar ou a dormir. Não tenho motivação para me levantar todos os dias. Tentei colocar o piloto automático, mas já não resulta. Não sei mais o que fazer e estou-me a sentir desesperada com isso. A minha ansiedade anda particularmente má e parece que perdi a vontade de fazer outras coisas além da faculdade. No verão consegui arranjar a estratégia de gravar áudios para mim mesma, como se estivesse a falar com outra pessoa - sim, que figura mais triste -, mas não tenho tido tempo sozinha em casa e, quando o tenho, tenho de estar a fazer reuniões de trabalhos ou a ajudar a sicrana a perceber a matéria x. Gostava de ser diferente. Gostava de saber dizer que não às pessoas sem me sentir mal. Gostava de não sentir que todos estão comigo porque lhes interessa e que, quando finalmente tiverem o que querem, eu vou deixar de ser importante para eles. Gostava de não ter de fingir todos os dias que tenho uma vida que não tenho, que tenho amigos, que tenho pessoas que se preocupam comigo. Gostava de ter uma vida minimamente interessante e feliz, mas sinto que isso é impossível. Talvez eu tenha a incapacidade de me sentir feliz ou de ser feliz. Talvez seja a nossa sina... Não queria acabar a carta num tom negativo, mas sinto que, neste momento, isso é impossível. Espero que estejas bem, ainda que sinta que, se tudo continuar assim, esta carta não vai ser lida por ninguém... De qualquer forma, sabe que te adoro e que, independentemente de onde estejas, eu compreendo-te e orgulho-me de ti.