Meu querido eu do futuro, não sei o que você vai se tornar, mas espero que você já tenha descoberto a resposta da minha pergunta quando me encaro no espelho: Quem é você?
Ontem foi aquele dia, aquele momento, que enfrentamos o nosso pior medo. Você se lembra dos pesadelos? Da raiva? Da dor? Das lágrimas?
Foi muito difícil formular aquela carta para expressar tudo que sentíamos de forma singela. Que conseguiríamos ler sem chorar... Choramos muito antes de conseguir terminar ela...
Sabíamos que ler a carta para a Patrícia iria me fragmentar. O antigo Lucas iria morrer e um novo iria renascer. Estilhaçamos nossa personalidade. Eu não acredito que nós conduzimos um trauma de forma consciente.
O antigo Lucas esperava se sentir fraco, vulnerável e leve. Quando começamos a ler a carta para ela, tivemos que pedir para não encarar tão firme, a emoção veio a tona, conseguimos não chorar, mas meu corpo começou a se afastar, coragem para enfrentar nosso pior medo, mas o corpo começou a se mover inconsciente. Quando ela me pegou pela mão e falou aquelas poucas palavras. Não consegui permanecer.
Quando sai de lá, o antigo estava morto. E eu estava vivo. Sem identidade. Senti desespero, solidão, desamparo, desolado. Pedi para minha raiva queimar, mas ela havia desaparecido. Minha raiva, o que eu considerava meu principal valor, não estava mais lá. Quem eu sou sem minha raiva? Espero que você possa responder essa pergunta.
Procuramos ajuda, mas como de praxe, as igrejas estavam fechadas e tive que rezar sozinho com meu pequeno crucifixo. Estava deixando avisado que eu começaria a me punir, eu sinto tanta dor, totalmente psicológica, quero sentir essa mesma dor física, na mesma proporção, aí talvez consiga explicar. Avisei que o seu servo o faria se ele não enviasse outra ordem...
Quando cheguei em casa, o aviso tinha sido dado. Eu investiguei aquele quadro o melhor que puder, mas não encontrei o porquê dele estar fazendo barulho. No quadro, fotos de família, principalmente de minha mãe. Isso significa que devo me abrir com ela? Que eu devo expor mais meus sentimentos? Eu não consigo imaginar ela sofrendo comigo, mas vou tentar, pedir conselhos ao menos. Segunda pergunta, você conseguiu se abrir mais com sua mãe?
Todos aqueles pesadelos, estavam quase todos relacionados ao caráter sexual. Será que meu subconsciente está falando que não é para eu me perder no mundo de sexo casual, para tentar esquece-la? Por que sabemos, já tentamos de diversas formas, simplesmente não conseguimos destruir nosso amor por ela.
Eu acho que é isso. Não me envolver com outras mulheres, buscando satisfação de curto prazo, buscando esquecer a minha dor com sexo. Essa é uma solução viável? Faz algum sentido? Terceira pergunta: conseguiu se resolver sem envolver nenhuma inocente nessa merda toda?
Por último, minha pirâmide de valores. Muito antigamente: raiva, inconformação, culpa, ódio, dor, amor. No último Lucas que morreu: raiva, fé, amor, esperança, contribuição. No atual: solidão, fé, dor, amor, esperança, raiva, contribuição. Quarta pergunta: como ficou sua lista de valores?
Estou curioso como vamos lidar com tudo isso. Agora pelo menos me sinto um pouco mais leve, podemos morrer sem levar palavras que nunca foram ditas para túmulo. Ah meu caro! Que felicidade! Eu enfrentei meu medo! Eu falei para ela, tenho uma centelha de esperança e é isso que está me matando...
Ela ficou tão próxima, percebo que ela tem tocado mais... Eu não consigo entender, eu não sei o que fazer.
Só para lhe lembrar, o aniversário dela é este mês. Ela quer acampar, ver o nascer do sol e passar um café em um local bem frio. Porque não?
Epilogue
about 18 hours laterNão nego que fiquei com receio de abrir essa carta. Demorei mais do que pensei...
Não estou perfeito, como queríamos. Estou imperfeito, me...
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